Fonte: SIC Noticias
Os Técnicos dos Gabinetes Técnicos Florestais desempenham funções no âmbito do Planeamento Municipal da Defesa da Floresta Contra Incêndios desde 2005. Desde então, são várias as acções que visam a prevenção estrutural contra incêndios.
Os Municípios da região,através dos seus técnicos têm vindo a planificar, projectar a estratégica rede de pontos de água, os quais têm sido objecto de intervenções visando a sua necessária manutenção e adaptação aos meios aéreos .
O Alto Minho foi pioneiro em acções de fogo controlado, mediante a iniciativa do ilustre Eng.º Moreira da Silva. Desde 2009 o uso do fogo técnico tem tido um papel cada vez mais importante na gestão de combustíveis, no melhoramento de pastagens, no controlo de infestantes e na gestão cinegética.
Hoje, todos os técnicos dos GTF's do Alto Minho encontram-se devidamente formados para levarem a cabo a missão pública do uso do fogo técnico, mediante o importante apoio das diversas equipas de combatentes da região: bombeiros, sapadores florestais, GIPS, entre outras.
São já as centenas de hectares de faixas de gestão de combustíveis executadas, bem como centenas de quilómetros de rede viária beneficiada, ao abrigo dos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, em vigor desde 2007.
Os Gabinetes Técnicos Florestais do Alto Minho destacam-se pela intensa dinamização, inter-cooperação, acções integradas e por uma política regional de intermucipalidade, com vista a aumentar a eficácia e a redução de custos. Contudo ainda há muito para fazer, mas os seus técnicos operacionais, estão prontos para os novos desafios.
E na prática como podemos usá-lo?
Seguidamente, como exemplo descreverei o comportamento de um incêndio em que participei este ano e que permite de certa forma validar o CPSL no campo, no que respeita ao comportamento do fogo num incêndio florestal, nas acções de vigilância activa pós-incêndio e nas manobras de rescaldo.
No passado dia 27 de Junho, por volta das 18:40 horas (cerca das 18 horas solares) deflagrou um pequeno incêndio, numa encosta Este do monte da Costa, freguesia de Cossourado, Concelho de Paredes de Coura, nos limites com os Concelhos de Valença e de Vila Nova de Cerveira. A ocorrência teve início num espaço ocupado por matos e algum pinhal regenerado e com origem junto ao perímetro de um incêndio ocorrido nas primeiras horas da manhã, ou seja por reacendimento.
O incêndio iniciou-se numa encosta “fria” àquela hora, mas quando chegou à linha de cumeada, ganhou intensidade e aumentou a sua velocidade de progressão, entrando em contacto com a encosta Oeste, coberta de combustíveis quentes. Sem muita acção do vento e evoluindo contra declive, ou seja em Médio Alinhamento (2/3), em pouco tempo o incêndio foi dominado, cujo combate foi facilitado com o apoio do meio aéreo ligeiro (arderam cerca de 6,5 hectares). Seguidamente, procedeu-se à manobra de rescaldo. A zona correspondente à cabeça e flanco direito mereceu um maior cuidado, devido à elevada quantidade de folhagem seca e húmus, derivada de uma plantação de cupressáceas, pelo que se abriu uma faixa com material de sapador apoiada com água e procedeu-se à eliminação de pontos quentes junto ao perímetro. A zona correspondente à cauda limitava com matos densos e eucaliptal, a qual obrigou a trabalhos de rescaldo e vigilância. O flanco esquerdo estava limitado por um caminho.
No dia 28 de Junho, pela manhã e tarde mantiveram-se as equipas de sapadores em vigilância com atenção especial à área correspondente à cauda, dada a densidade dos combustíveis limítrofes. Por volta das 16:00, enquanto a equipa de sapadores procedia à vigilância do perímetro a norte, eu e outro colega do SMPC, em conjunto com a Equipa de Protecção Florestal (GNR) local, aferíamos a área ardida. Quando entramos na encosta Oeste, constatamos o incendiar da copa da árvore de uma cupressácea por radiação do solo quente ardido. Apesar da distância, mas com o auxílio do vento forte (27 km/h), propagou-se o fogo às copas das árvores fora da faixa (cerca de 5 metros), conduzindo este reacendimento a um incêndio que lavrou cerca de 96 hectares de povoamento adulto e regenerado (de 6 anos). O incêndio progrediu a grande velocidade e com elevada intensidade sobre combustíveis quentes, a favor do vento e do declive. Durante o incêndio registaram-se diversos focos secundários resultantes de material incandescente projectado pelo vento e pela intensa coluna convectiva, bem como reacendimentos nas faixas de contenção.
Durante o combate, no Posto de Comando, procedi à elaboração do croqui do incêndio e à previsão do desenvolvimento futuro com base no comportamento do fogo. No final do incêndio, a área ardida levantada com recurso a GPS coincidiu com a previsão traçada no croqui horas antes! Estava testado o CPSL neste incêndio!
Ao analisarmos o comportamento deste incêndio, nas diversas etapas, desde o foco nascente até ao seu desfecho, podemos compreender que para além da necessidade das faixas de contenção terem que ser mais largas e que as árvores nos limítrofes, com copas não ardidas, terão que ser derrubadas, também temos que proceder à vigilância das partes do incêndio expostas de acordo com as curvas de inflamabilidade. Daí que torna-se importante mobilizar e localizar as equipas de acordo com as curvas horárias de inflamabilidade e prestando atenção aos restantes factores de alinhamento.
É fundamental que o técnico responsável, à semelhança dos combatentes, domine o Sistema de Previsão de Campbell, baseando-se na experiência no acompanhamento das ocorrências e na análise detalhada de cada incêndio, pequeno ou grande.
Fica aqui o desafio, pois só poderemos combater melhor se conhecermos melhor o inimigo – o Fogo!
Desenvolvido e postado por:
Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira