sábado, 22 de setembro de 2012

Proposta de um Modelo para Determinação do Índice de Risco de Incêndio Florestal

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira
 
Adaptação do Lowveld Fire Danger Rating System/Fire Danger Index de Laing & FDI de McArthur

O Modelo que seguidamente se apresenta é uma adaptação do modelo Fire Danger Rating System de Lowveld (LFDRS) amplamente utilizado na África do Sul.

O LFDRS da África do Sul é uma adaptação do Fire Danger Index (FDI) desenvolvido por Michael Laing no Zimbabwe (então Rodésia) em 1968 (Laing, 1978). O modelo básico utiliza as mesmas entradas que o modelo de McArthur, que são dimensionadas para produzir um modelo simples que pode determinar valores facilmente sem precisar de cálculos complexos. (McArthur 1958, 1967).

O cálculo do Burning Index (BI) usa um nomograma simples recorrendo aos valores da temperatura e da humidade relativa. Uma vez que o valor do BI foi obtido, ele é, então, ajustado para o vento pela adição de um Fator de Correcção de acordo com as condições (velocidade) de vento predominantes às 13:00 UTC (hora solar).
A disponibilidade de combustível fino é calculada por meio de um "Fator de Correção de Precipitação" que usa o valor da precipitação acumulada nas últimas 24h antecedentes para ajustar o BI.

Optei por adaptá-lo a Portugal, pelo que contei com a colaboração do colega Luis Matos (GTF de Melgaço), o qual tem vindo a recolher informação local e proceder a teste. A adaptação apenas incidiu numa pequena alteração sobre o Fator de Correcção da Precipitação e numa adaptação das Classes de Risco.
Enquanto no modelo original são atribuídos factores de correcção a valores de precipitação inferiores a 1,0 mm, no modelo adaptado consideramos atribuir o valor 1, em virtude de que pelas nossas observações a precipitação acumulada de 1 mm em 24 horas nos nossos combustíveis florestais praticamente não influi na ignição e na velocidade de propagação, bem como na intensidade. Esta influência é ainda menos marcante em combustíveis de 1h e de 10h, onde a humidade é perdida com mais facilidade, principalmente com valores tão reduzidos de precipitação. As classes de risco FDI (traduzido para IRIF) foram adaptadas à nossa meteorologia, isto é, aos nossos valores de temperatura e de humidade favoráveis à probabilidade de incêndios florestais.

Quando se pensou na adaptação deste modelo, pensou-se numa forma simples de determinação do risco de incêndio florestal à mão de qualquer combatente para a sua planificação das acções de prevenção, de modo a auxilia-lo sem grandes questões de ordem técnica ou científica, pois o que realmente interessa ao responsável por uma equipa de vigilância, 1ª intervenção ou combate, é conhecer o risco provável para as próximas horas. Igualmente, pode ser uma ferramenta muito útil para os responsáveis pelas Juntas de Freguesia, na informação do risco de incêndio à população rural, fora do Período Crítico, sobre as condições de segurança para a realização de queima de sobrantes.
A grande vantagem deste modelo está na sua simples interpretação com base numa planilha (ver link para descarga), facilitando a planificação da prevenção, pelo que face a esta vantagem tentamos adaptá-lo às condições meteorológicas do nosso território. Pode ser mais um instrumento importante para a apoiar a tomada de decisão em acções de prevenção, por qualquer pessoa com responsabilidades nestas matérias.
Apenas precisamos dos valores de uma simples estação meteorológica, referentes ao vento (km/h), à temperatura (ºC) e à humidade relativa do ar (%), bem como a precipitação acumulada (mm), caso se verifique. Para o cálculo do IRIF interessam-nos, preferencialmente, os valores registados às 13 UTC (hora solar).
Para além deste Risco de Incêndio, é conveniente ter particular atenção à direcção do vento, à hora (solar) e à exposição da encosta. Segundo as Curvas de Inflamabilidade de Campbell (CPSL) poderemos estimar o período de máxima inflamabilidade de uma dada encosta, onde um incêndio ocorrendo atingirá um pico de intensidade nessa mesma encosta, cuja mudança poderá levar a um aumento ou redução da intensidade no comportamento do fogo.

Saliento que se trata ainda de um modelo experimental, mas que até ao momento tem demonstrado alguma coerência, face aos testes levados agora a cabo pelos técnicos dos GTF’s do Alto Minho, elementos do GIPS da GNR e elementos das Corporações de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Cerveira e de Valença. Porém, devemos continuar a fazer os testes e a validar os dados, pelo que fica aqui para descarga uma simples planilha que o auxiliará na determinação do Índice de Risco de Incêndio Florestal (IRIF).

Agradece-se pois que faça chegar os seus comentários, observações e sugestões para o e-mail: gtfcerveira@gmail.com.

O USO DESTE MODELO NÃO SUBSTITUI O RISCO DE INCÊNDIO OFICIAL USADO NO NOSSO PAÍS (FWI), PUBLICADO DIARIAMENTE PELO INSTITUTO DE METEOROLOGIA.

Vamos então a um simples exemplo explicativo:

Segundo o site da METEOPT regista para o dia 22 de Agosto, às 12 UTC, em Viana do Castelo, os seguintes valores de:

Para sabermos o Índice de Risco de Incêndio Florestal (IRIF) procedemos da seguinte forma:

1. Estimar o Factor de Correcção da velocidade do vento, km/h
Para isso basta apoiar-se na seguinte tabela:
Ou seja, com base na tabela para um vento de 21 km/h obtemos uma correcção de 15.

2. Calcular o valor do Burning Index (BI)
No quadro de alinhamento, utilize uma régua e una o valor da temperatura ao valor da humidade relativa, pelo que obterá o valor do BI - Burning Index.

Pelo que obtemos o valor de BI de 33.

3. Estimar o Factor de Correcção da Precipitação, mm/24h
Como a precipitação acumulada nas últimas 24 horas foi inferior a 1 mm, vamos proceder agora à sua correcção com o auxílio do quadro abaixo.

Em virtude da ausência de precipitação o Factor de Correcção será de 1.

Sendo assim, procedemos então ao cálculo:
Burning Index (BI): 33
Factor de Correcção da Precipitação: 1 x 33 = 33
Some o Factor Vento: 15

Índice de Risco de Incêndio Florestal (IRIF): 48

O Índice de Risco de Incêndio Florestal é ALTO para Viana do Castelo para o dia 22 de Setembro de 2012.

Aqui fica para descarga, a planilha para estimar o Índice de Risco de Incêndio Florestal (em teste).

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Artigo de Opinião: O abandono florestal é causa de acidentes de combatentes!?

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Após a leitura do artigo publicado no Público online, de 18.09.2012, titulado «Bombeiros dizem que abandono florestal e clima tornam fogos “menos previsíveis”», cujas declarações e opiniões são da exclusividade de Jaime Soares, Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), pelo que discordando com a natureza das justificações relativamente aos acidentes que vitimaram mortalmente, neste verão, três combatentes, cumpre-me esclarecer algumas questões para o bem de todos os combatentes e responsáveis pelo combate.

Apesar de concordar com a situação crítica da gestão florestal pública, comunitária e privada, completamente subvalorizada, não podemos desresponsabilizarmos-nos das nossas responsabilidades como coordenadores de combate, principalmente quando temos a cargo vidas de terceiros que voluntariamente dão a sua vida por uma causa de todos. A floresta com elevada densidade e disponibilidade de combustível associada a uma meteorologia favorável a incêndios é um meio hostil que qualquer combatente de incêndios conhece e respeita.

Todo o combustível vegetal presente na floresta portuguesa, associado às monoculturas, principalmente, de pinheiro-bravo e de eucalipto, têm características altamente inflamáveis que com um extenso período de seca, temperaturas elevadas, humidade relativa baixa e vento forte, vão ser incrementadas.

O Presidente da LBP da sua larga experiência com ligação aos bombeiros, desde a sua juventude, também se deve recordar que até à década de 80 os bombeiros apoiavam o combate aos incêndios florestais, o qual era realizado por experientes equipas – as brigadas florestais - dirigidos pelos então designados mestres florestais do Corpo Nacional da Guarda Florestal da Direcção Geral das Florestas (actualmente incorporados na GNR com funções de fiscalização). O combate até então era realizado com pouco uso de água e muito trabalho de ferramenta manual e baseado na observação do comportamento do fogo. Muitas corporações de bombeiros ganharam esse conhecimento empírico e experiência junto das brigadas florestais, detendo hoje respeitáveis combatentes. A chegada das “autobombas” e o consequente uso abusivo da água, acompanhado do abandono das técnicas manuais levou à perda do conhecimento do comportamento do fogo.

A “violência dos incêndios e pela imprevisibilidade da sua progressão no terreno” está relacionada única e exclusivamente com o comportamento do fogo e a imprevisibilidade é tanto maior quanto o seu desconhecimento e interpretação. Hoje mais do que nunca, já não se admite no século XXI que incêndios florestais no Sul da Europa sejam combatidos unicamente com água, sem o devido acompanhamento técnico para documentação e análise, de modo a assessorar o COS, permitindo um combate mais eficaz, sem excesso de meios e de custos e, principalmente, reduzindo os riscos de vítimas em combate.

Se os bombeiros que foram vítimas dos incêndios florestais deste ano “não actuaram por aventureirismo, nem falta de conhecimentos”, então o que falhou? Se antes a "culpa" era da mudança do vento, hoje a "culpa" parece ser do abandono florestal e da mudança climática. Esta questão abre um conjunto de questões essenciais, tais como:

Foi estabelecido o Protocolo LACES? Todos os combatentes respeitaram as 10 Regras de Segurança e tiveram em consideração as 18 Situações de Risco? Conheciam e sabiam que trabalhavam na ZHM (Zona do Homem Morto)?
Exemplos como os do seguinte link demonstram falta de conhecimento e de interpretação do comportamento do fogo, pelo que arriscam-se vidas importantes com situações que campanha após campanha se repetem:
Incêndio em Arganil obrigou à evacuação da aldeia da Aveleira - País - Notícias - RTP

Não podemos nem devemos de julgar quem voluntariamente sacrifica a sua própria vida, mas a sociedade e principalmente, todos os combatentes têm o direito de saber a causa real e as condições em que se deu um acidente, com o fim de evitarmos a repetição de situações de risco semelhantes. A documentação, a análise de incêndio e os respectivos relatórios de acidentes associados são obrigatórios para uma melhoria da segurança de quem tanto dá.

Cabe-me como técnico, preocupado com o problema dos incêndios florestais e com a segurança dos combatentes, alertar o para o facto de que o combate aos incêndios não pode ser assumido como a opinião do Presidente da Liga quanto à causalidade dos incêndios florestais, pois é uma opinião baseada na sua estimativa pessoal, sem qualquer fonte que a suporte. Hoje importa, como no passado, mas recorrendo às novas tecnologias e técnicas, assessorar a importante tomada de decisão do responsável pelo combate, com base em dados registados no ambiente de fogo, na análise ao comportamento do fogo e no estrito cumprimento dos protocolos de segurança. Os incêndios florestais cada vez vão ser maiores e mais destrutivos, mas a perda da vida humana deve ser evitada a todo o custo.

"Não podemos evitar os riscos, mas podemos preveni-los."


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CURSO EM ANÁLISE DE INCÊNDIOS FLORESTAIS E USO DE FOGO DE SUPRESSÃO

 Artigo de: Artur Borges - GTF de Felgueiras
Paulo Bessa - GTF de Penafiel

O Território Português, à semelhança dos restantes Países Mediterrâneos, reúne as condições necessárias para a ocorrência de Grandes Incêndios Florestais (GIF), caracterizados por grandes áreas ardidas e por um comportamento extremamente violento do fogo, e que obrigam a uma mobilização e empenhamento de meios nunca antes vistos nos teatros de operações e com custos insuportáveis para um País limitado em recursos pela crise financeira a que se assiste.
Os GIF desenvolvem comportamentos extremos fora da capacidade de extinção existente, sendo necessária a abordagem técnica de especialistas no planeamento das operações de combate.
Neste Verão foi possível constatar, mais uma vez, aquilo para o que muitos investigadores e especialistas têm vindo a alertar, e que dizia respeito aos menores períodos de retorno, recorrência e simultaneidade de GIF no território e cuja intensidade e comportamento do fogo excedem a capacidade de extinção dos meios de combate existentes.

À semelhança da realidade verificada noutros Países, existem em Portugal técnicos analistas cuja habilitação e competência se centra na análise do comportamento do fogo e na predição da sua evolução ao longo do tempo e do espaço, através da qual conseguem planear as operações de combate mais seguras, adequadas e eficazes para cada tipo de incêndio. Estes analistas de incêndios florestais possuem uma formação e experiência muito ampla, onde se inclui o estudo da meteorologia associada aos incêndios florestais, uma experiência consolidada na realização de fogo controlado assim como um extenso estudo e análise de casos reais de incêndios florestais.

A existência de um reduzido número de técnicos habilitados nesta área tem-se demonstrado insuficiente para possibilitar a existência da figura do técnico analista em incêndios florestais em todo o País, assim como se encontra impossibilitada a sua intervenção numa fase inicial do combate aos incêndios florestais, estando actualmente a sua actuação mais vocacionada para o uso do fogo supressão, designadamente através dos Grupos de Análise e Uso do Fogo.

No ano de 2005, com a definição do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, foram criados os Gabinetes Técnicos Florestais cujas funções se centram no estudo e planeamento das mais variadas medidas com vista à Defesa da Floresta Contra Incêndios, desde a implementação de medidas preventivas até ao apoio ao combate, nos níveis municipal e supra-municipal.

O País encontra-se assim dotado de mais de 200 Gabinetes Técnicos Florestais nas Câmaras Municipais, cujos técnicos são o elemento chave na estratégia municipal e supra-municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, conhecedores do território municipal, com uma experiência consolidada em incêndios florestais e em condições de poderem vir a ser habilitados para o desempenho das funções de analistas de incêndios florestais, e a quem se deve exigir a prestação de um imprescindível apoio aos Comandantes das Operações de Socorro no que toca ao processo de tomada de decisão no cenário da ocorrência de um GIF.
Existem mais de 200 Gabinetes Técnicos Florestais cujos técnicos poderão ser habilitados como analistas de incêndios florestais e a quem se deve exigir a análise para apoio ao combate dos incêndios florestais.
Neste sentido, e procurando dar resposta à lacuna verificada, os técnicos dos Gabinetes Técnicos Florestais do Distrito do Porto, em parceria com uma empresa espanhola de referência, Consultoría Natutecnia S.L., à qual se juntaram técnicos de outros Distritos (Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Bragança, Vila Real, Coimbra, Guarda e Leiria), irão promover um Curso de Análise de Incêndios Florestais e Uso do Fogo de Supressão, o qual decorrerá a partir do próximo dia 25 de Setembro no Porto.

Com esta formação, devidamente reconhecida pela Autoridade Florestal Nacional para a credenciação em fogo de supressão, será dado o ponto de partida para que seja generalizada, numa escala regional e mesmo nacional, a disponibilidade de técnicos analistas de incêndios florestais para apoio aos Comandantes das Operações de Socorro ao nível da análise e do planeamento da extinção dos incêndios florestais.

Especialmente dirigida para os técnicos dos Gabinetes Técnicos Florestais, e com uma duração de 63 horas, a formação incidirá com maior relevância na análise meteorológica, na utilização de simuladores de comportamento do fogo, na análise e avaliação do comportamento do fogo, no planeamento da extinção e em protocolos de segurança, estando também contempladas sessões práticas com vista ao planeamento e execução do fogo de supressão e avaliação dos seus impactos.

Neste curso irá também ser abordada a análise de GIF ocorridos no território que, juntamente com a capacitação do ponto de vista operacional dos técnicos no combate aos incêndios florestais, irá permitir uma melhor planificação das acções de prevenção estrutural a implementar ao nível municipal e supra-municipal, concretizando assim uma estratégia de Defesa da Floresta Contra Incêndios mais efectiva.

Recuperação do Local Estratégico de Estacionamento


 Artigo de: Eduardo Afonso & Diana Exposto
SMPC/GTF de Valença

Recentemente a equipa de sapadores florestais fez intervenções de recuperação de um posto de vigia desativado  no lugar do Monte do Faro, é usado como Local Estratégico de Estacionamento, sendo considerado um ponto no território de ótimo posicionamento de unidades de primeira intervenção. Tem uma visibilidade sobre a área a Este, Norte e Sul do concelho.
Foram feitas limpezas no seu interior e corte de mato na sua área envolvente, para melhor servir a vigilância no concelho, em coordenação com o posto de vigia 25.01, situado no Perímetro florestal da Boalhosa a 782 metros de altitude.
A vigilância ativa dos espaços rurais visa contribuir para a redução do número de ocorrências de incêndios florestais e mostra-se cada vez mais importante nas ações de defesa da floresta contra incêndios. O nosso lema é, Portugal sem fogos depende de todos.

VALENÇA: PERSISTÊNCIA E MUITAS ÁRVORES!

 Artigo de: Eduardo Afonso & Diana Exposto
SMPC/GTF de Valença

A vontade sempre foi muita por parte de todos os que trabalham no Gabinete Técnico Florestal de Valença (dois técnicos e Equipa de Sapadores Florestais, com cinco elementos). A ideia partiu inicialmente na garantia de autonomia própria na criação e manutenção de árvores num horto florestal municipal.
Com existência de cerca de dois anos, o horto situa-se no estaleiro municipal da Câmara Municipal de Valença, conta com cerca de vinte mil árvores que se repartem por várias espécies, como, pinheiro bravo; pinheiro manso; medronheiro; Chamaeciparis; Catalpas bignonioides; carvalho americano; carvalho alvarinho; alfarrobeira; castanheiro da índia; liquidâmbar; Acer pseudoplatanus; azevinho; Cupressus; bétula; freixo; magnólia; camélia; cerejeira brava; pseudotsuga, ginkgo biloba; loureiro, entre outras.
Aposta-se nas espécies autóctones e sobretudo em ter várias e muitas espécies para posteriores trabalhos como, campanhas de sensibilização (Dia da Árvore), reflorestações e plantações nos baldios.
Já foram realizadas várias iniciativas com recurso a estas árvores, e no período de ações silvícolas sofrem substituições e manutenção por parte da equipa de sapadores florestais . Todo este trabalho deve-se sobretudo à força de vontade da equipa de sapadores que recolhem as sementes, fazem as sementeiras no horto e cuidam do mesmo retirando as gramíneas.
É um trabalho moroso mas que vale a pena, pois o resultado está à vista, chegando à época de plantar todas as árvores já têm o destino final, a terra repartida por várias freguesias do concelho. Trabalha-se para a criação de espaços florestais, trabalha-se com persistência para que hajam muitas árvores no concelho de Valença.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Auditoria. Despesas de funcionamento ficam com 80% do fundo florestal

 Por Ana Suspiro, publicado em 10 Set 2012

Desde 2009, que o fundo criado para apoiar reflorestação financia sapadores florestais e gabinetes técnicos florestais

Cerca de 80% dos subsídios atribuídos através do Fundo Florestal Permanente em 2011 destinaram-se a financiar despesas com carácter fixo, em particular despesas de funcionamento das equipas de sapadores florestais e dos gabinetes técnicos florestais.

Esta é uma das principais conclusões da auditoria financeira pedida pela ministra da Agricultura, Assunção Cristas, ao fundo florestal. O relatório da Inspecção-Geral da Agricultura e Pescas, que foi homologado em Março deste ano, avisa que esta situação tem vindo a acontecer, em particular desde o segundo trimestre de 2009, quando o fundo substituiu a Autoridade Florestal Nacional no financiamento dos sapadores florestais. O desvio de verbas para despesas administrativas era uma suspeita que já tinha sido levantada pelas associações de produtores florestais.

Os principais objectivos do fundo são a promoção de acções de ordenamento florestal, prevenção de incêndios e apoio à reflorestação, sendo a sua fonte de financiamento uma taxa criada sobre os combustíveis rodoviários. Mas perante a tendência de decréscimo da receita proveniente da ecotaxa e o elevado nível de rigidez da despesa financiada pelo fundo, “o cumprimento dos objectivos no seu todo fica condicionado, não sobrando verbas para financiar com significado acções em todas as áreas de intervenção previstas no decreto-lei 63/2004”, escreve o relatório que foi enviado no final de Maio ao Parlamento.

A auditoria recomenda ao executivo que equacione se as despesas de funcionamento das equipas de sapadores florestais e os gabinetes técnicos florestais devem continuar a ser suportadas pelo fundo, recomendação que foi confirmada pela ministra Assunção Cristas em Março deste ano. Mas não foi possível esclarecer junto do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território que medidas foram entretanto tomadas.

Criado em 2004, o fundo florestal tinha como objectivos promover o ordenamento e gestão florestal, a prevenção de incêndios, a reflorestação, reestruturação de propriedades e investigação. A principal fonte de financiamento é a ecotaxa de meio cêntimo sobre os combustíveis até 30 milhões de euros por ano. Mas estavam previstas outras fontes, como o rendimento da exploração florestal de matas públicas, uma percentagem do valor de coimas, o produto de doações ou alienações ou cedência de património.

No entanto, na prática, a ecotaxa tem sido a única receita do fundo e está a encolher à medida que cai o consumo de combustíveis. Entre 2004 e 2010 o fundo recebeu cerca de 169 milhões de euros do imposto petrolífero, tendo executado despesas no mesmo período de 155,3 milhões de euros. Os subsídios pagos ascenderam a 131,9 milhões de euros. O fundo tem recebido em média 25 milhões de euros por ano, mas esses valores começaram a descer em 2010, para 23 milhões de euros. Em 2011 o valor provisório era de 21,5 milhões de euros.

Em 2009, o então secretário de Estado do Desenvolvimento determinou em despacho que o fundo deveria pagar uma verba anual de 28 mil euros a 278 municípios (2333 euros por mês) para financiar a constituição e funcionamento dos gabinetes técnicos florestais. No primeiro ano isto representou uma factura de 7,4 milhões de euros.

No mesmo ano, um despacho do ministro da Agricultura autorizou o financiamento, a título excepcional, dos encargos com as equipas de sapadores florestais através do fundo até ao montante de 4,4 milhões de euros. Esta decisão resultou dos constrangimentos orçamentais da Autoridade Florestal Nacional, segundo o mesmo despacho. A autoridade não procedeu à regularização deste financiamento até à data, sublinha o relatório.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Desagravamento da situação de seca meteorológica nas regiões Norte e Centro

O valor médio da quantidade de precipitação em Portugal Continental (14.4mm), em agosto, foi próximo do valor médio 1971-2000 (13.7mm). Os valores de precipitação mais elevados, registados no mês de Agosto, ocorreram essencialmente nos dias 14, 15 e 24 e em particular nas regiões do litoral Norte e Centro. Assim, o mês classifica-se na região Norte como chuvoso a extremamente chuvoso nas zonas próximas do litoral e normal nas zonas do interior; na região Centro o mês classifica-se como normal a chuvoso e na região Sul como normal a seco, exceto no sudoeste alentejano onde foi chuvoso.

Devido aos valores mais altos de precipitação que ocorreram nas zonas do litoral Norte e Centro, verificou-se no final de agosto um desagravamento da intensidade da situação de seca meteorológica nessas regiões. Assim no final do mês tem-se: 33% do território em seca extrema, 40% do território em seca severa, 13% em seca moderada, 13% em seca fraca e 1% na situação normal.

O mês de agosto, em Portugal Continental, registou um valor médio da temperatura máxima do ar (29.04ºC) superior ao valor normal 1971-2000 (+0.24ºC), e valores médios das temperaturas média (22.01ºC) e mínima (14.98ºC) do ar inferiores ao valor normal em -0.14ºC e -0.52ºC, respetivamente.
 
 
Fonte: IM, IP

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Combate aos Incêndios Florestais - O Caso da Galiza

Seguidamente, transcreve-se parte da Exposição do Caso da Galiza, do autor Tomás Fernández-Couto Juanas, então Director-Geral de Florestas e Indústrias Florestais, da Xunta de Galicia, publicada nas Actas do Seminário Internacional de Prevenção, Detecção e Combate de Fogos Florestais, organizado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento no ano 2005, em Lisboa.
Este artigo pretende uma reflexão à actual política florestal e à organização do combate aos incêndios florestais, em virtude da semelhança da Galiza com Portugal. À medida que vamos lendo, vamos encontrar respostas às nossas questões, principalmente: o porquê de em Portugal arder tanto espaço florestal!?


Vamos dar início à nossa primeira sessão de trabalho, começando por ouvir uma exposição sobre o caso da Galiza. Como sabe a generalidade dos presentes, trata-se de um caso de sucesso. Quando se olha para o gráfico que reproduz a curva da área ardida em cada ano, surpreende-nos a sua queda súbita, em determinado momento. Foi quando entraram em acção os meios que hoje asseguram a protecção da floresta galega.
(…)
Como sabem, a Galiza é uma comunidade autónoma do Noroeste espanhol, relativamente pequena, com três milhões de hectares, mas com uma importância florestal elevada. Presentemente, dois milhões de hectares têm características florestais, e a superfície arborizada, embora entretanto tenha crescido, segundo o terceiro inventário florestal nacional é de cerca de 1 400 000 hectares.
(…)
Só para se ficar com uma ideia, acorremos em média a cerca de 10 mil fogos por ano. Houve até um ano em que tivemos 15 mil fogos. Nos períodos de Verão, com um vento de Nordeste forte, é provável que haja 15, 20 dias, 10 dias com 300 fogos, em média, por dia, o que quer dizer que há dias com 180 mas também os há com 400 fogos. Deste modo, a carga de trabalho é imensa, o que requer uma organização muito específica, pois há poucos lugares no mundo onde a concentração de incêndios se apresente tão elevada como na Galiza.
 

De todo o modo, há uma série de factores que de alguma maneira explicam que teremos sempre um problema estrutural, pois que a Galiza tem 4000 freguesias, que constituem, numa superfície tão pequena, metade dos núcleos populacionais de toda a Espanha, e o crescimento da biomassa é tremendo. Tem havido anos em que temos sido chamados a apagar outra vez no mês de Setembro zonas que tinham ardido nos meses de Março ou de Maio, o que quer dizer que, num mesmo ano, há que voltar a apagar fogos porque a vegetação cresceu.
 

E depois temos, evidentemente, uma pluviosidade muito alta, um clima em geral suave, mas com dois ou mais períodos muito fortes de seca. Temos uma seca importante no Verão, sobretudo na zona Sul, na província de Orense, mas depois temos também períodos de seca consideráveis por volta do fim do Inverno e na Primavera.
 

Este conjunto de situações, este confronto entre terreno urbano, terreno habitado e terreno florestal, por múltiplas causas, gera por si próprio incêndios. A regeneração da biomassa é imensa (podemos fazer por completo limpezas de mato num monte na Primavera, e, quando chegamos ao Verão, a erva pode ultrapassar a nossa cintura). De maneira que todas estas circunstâncias favorecem o aparecimento do fogo (por acidentes, pelas mais diversas causas), dificultando a sua extinção.
 

Como disse, no ano de 1990 a situação era realmente má na floresta galega, que estava desestruturada. As pessoas não “acreditavam” na floresta, os subsídios de ajuda florestal não sobravam, eram em quantidades relativamente pequenas e não cobriam a procura. A partir daí tomou-se uma decisão política importante, que constituiu uma prioridade real do Governo: a de enfrentar, de uma vez por todas, a questão dos incêndios florestais.
 

Surgiu então um sistema cujos princípios eram diferentes dos do anterior.
 

Por um lado, o princípio da luta contínua. Existem determinados níveis de desdobramento, dependendo da época, mas os serviços de incêndios funcionam, na Galiza, ao longo de todo o ano. Para que se faça uma ideia, desde o princípio deste ano (ou seja, nas últimas seis semanas) já acorremos a cerca de 200 incêndios, apesar de ter chovido bastante.
 

Por outro lado, fez-se um esforço considerável na profissionalização, potenciando todos os níveis, a saber: a prevenção, a detecção, a formação e a investigação, e, consequentemente, a extinção.
 

Também foi feito um esforço muito grande para assegurar um comando único. Na Galiza estamos quase militarizados no que diz respeito à extinção de incêndios, e a hierarquia é absoluta. Existe apenas um nível de decisão com diversos escalões.
 

Os Serviços de Extinção são estruturados a partir dos Serviços Florestais e, actualmente, a Conselharia do Meio Ambiente, através da Direcção‑Geral de Florestas, estrutura todos estes mecanismos. Não há decisões distintas, existe apenas a autoridade de um único Director-Geral, só há a autoridade de um Chefe Provincial, e só a autoridade de um Chefe Distrital em cada um dos 19 distritos da Galiza.
 

Criou-se ainda, no âmbito da Direcção-Geral de Florestas, a Subdirecção‑Geral de Defesa Contra Incêndios Florestais. Neste momento, a Direcção de Florestas tem duas subdirecções, uma de recursos florestais, que se dedica à política florestal e primeira transformação da madeira, e, digamos, a outra metade da Direcção-Geral, que se dedica de forma permanente à prevenção e extinção de incêndios florestais, com um nível de subdirecção-geral estruturado em quatro serviços provinciais.

Após a leitura de parte da exposição que poderá ler na íntegra no link abaixo, fica-nos a seguinte questão:
 

Desde 2004, o que mudou em Portugal em matéria de defesa da floresta contra incêndios?

A resposta é simples: Tudo mudou no sentido contrário ao exemplo galego. 

Um exemplo de sucesso divulgado e reconhecido pelas entidades com responsabilidades em matéria de politica florestal e de protecção civil presentes, em tão badalado Seminário Internacional! Mas parece ter servido de pouco o bom exemplo...

Postado por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

sábado, 1 de setembro de 2012

Incêndios florestais, a cara amarga do verão

Artigo de Rosa Planelles, professora de Defesa da Floresta na Escuela Técnica Superior de Ingenieros de Montes da Universidad Politécnica de Madrid, sobre os incêndios que assolam a floresta espanhola.

24.07.12 Por ROSA PLANELLES.

Todos parecemos treinadores de futebol

Opinamos sobre os alinhamentos da nossa equipa nos jogos, as posições ocupadas pelos jogadores, as mudanças ou os momentos mais oportunos para fazê-las. Quando a equipa ganha, todos ganhamos mas quando perde, a culpa é do treinador… Quando ocorre um grande incêndio florestal a situação parece-me semelhante.

Parece que todos sabemos o que ocorreu ou o que deveria ter acontecido; ouvem-se frases como “houve falta de coordenação”, “não havia meios suficientes”, “os meios chegaram tarde”, “ardem os pinheiros”, “queima-se para edificar”, “o monte não estava limpo”, “falta de orçamento”… Opinamos, valorizamos, julgamos…excepto que, diante dos possíveis resultados no terreno futebolístico, no campo florestal nunca há vitórias, os incêndios são sempre batalhas perdidas. Uma vez iniciado um incêndio florestal, por ma´s rápido que se actue, por muito bem que se trabalhe, sempre há perdas (nas estatísticas não aparecem as vidas protegidas, as habitações defendidas ou os hectares que se conseguiram salvar).

O facto de acreditarmos de que todos podemos opinar sobre estes temas está em parte influenciado pelos meios de comunicação que dirigem os nossos pensamentos e opinião que aportam certos dados que cremos que nos habilitam para opinar como veemência como se soubéssemos do que estamos a falar, como se fosse fácil dar soluções a problemas tão complexos, para os quais existem muitas pessoas, profissionais de várias áreas, a trabalhar desde há muito tempo, esforçando-se por continuar a melhorar nas suas respectivas responsabilidades, arriscando inclusive as suas vidas quando trabalham na frente de chamas.

Obviamente, em ambas situações há uma (entre muitas outras) diferença fundamental. O futebol, apesar de que para muitos é um trabalho e a sua fonte de receitas, para a maioria é um entretenimento, uma via de escape, ócio e de gozo em definitivo, enquanto que os incêndios, os grandes incêndios em especial (definidos como aqueles que afectam superfícies maiores a 500 hectares; em Portugal superior a 100 hectares), são uma tragédia que ainda que nos toque a todos da mesma forma, queiramos ou não, afecta-nos a todos. Assim, constata-se que quando se fazem inquéritos sobre quais sãos os principais problemas ambientais que afectam o nosso território: a maioria dos espanhóis identifica os incêndios como um dos mais importantes (Relatório Greenpeace, 2008).

Os devastadores efeitos das chamas

Porquê? Quais são os efeitos que provocam os grandes incêndios? A resposta estará ligada à escala a que decidimos avaliar esses efeitos, uma escala tanto espacial como temporal: não são comparáveis os efeitos de incêndios de poucas dezenas de hectares numa área protegida, com incêndios de milhares de hectares, ou incêndios recorrentes numa vegetação que não teve tempo de recuperar. A casuística é muito variada, de tal forma que, simplificando muito, os incêndios florestais produzem efeitos sobre as pessoas, directos (dezenas de mortos e feridos) e indirectos, assim como enormes perdas económicas imediatas (para os proprietários de bens afectados, sejam particulares ou a Administração pública) por perda de muitos produtos (madeira, frutos, caça, cortiça, cogumelos, resina, caruma e etc.). Também danos ambientais “intangíveis”: redução da qualidade do ar, emissão do CO2 e contribuição para o efeito estufa, perda de controlo e defesa contra enxurradas e secas (aumento da erosão), degradação da paisagem (muito relacionado com o ócio e o recreio), etc., além do grande alarme social (lamentavelmente na maioria dos casos, transitório).

Se os efeitos são tantos e tão importantes como poderíamos antecipar-nos e prever os incêndios florestais? Para esclarecer esta questão devíamos responder antes a outra questão: o que é necessário para que ocorra um incêndio florestal?

Os elementos imprescindíveis para que ocorra um incêndio florestal podem ser representados graficamente com um triângulo cujos lados são: combustível, oxigénio e fonte de calor. O combustível, matéria vegetal, está disponível no nosso território cada vez mais em maior proporção devido a causas estruturais (fundamentalmente pelo abandono das práticas tradicionais na floresta associada ao despovoamento de grandes áreas). O oxigénio está sempre presente. Estudando o terceiro lado, a fonte de energia, entra a investigação de causas dos incêndios, já que na presença de oxigénio e do combustível disponível para arder é necessária alguma fonte de calor para iniciar a combustão.

Um fenómeno difícil de eliminar

Segundo mostram as estatísticas que aportam ao Ministério de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente de Espanha, em todas as Comunidades Autónomas (que são as Administrações competentes nesta matéria), mais de 95% dos incêndios originam-se por causas antrópicas, causas que se classificam em intencionais ou por negligência e acidentes. Logo, é às pessoas a quem há que dirigir os esforços de informação, consciencialização e conciliação, sem esquecer a sanção (administrativa ou por via penal) como ferramentas preventivas. Conhecendo em detalhe os problemas de cada zona e de cada comunidade em concreto, trabalhando continuamente pode-se fazer muito para avançar na prevenção.

Assim evitaremos incêndios? Não. Os incêndios estão longe de ser um fenómeno que possamos eliminar. Vivemos num ambiente mediterrânico, desde sempre conviveu-se com o fogo e assim se seguirá , pois o fogo tem ajudado a modelar a paisagem e as espécies que habitam na nossa floresta e é uma ferramenta que podemos e devemos de seguir usando ordenadamente, incorporando os conhecimentos técnicos e científicos que fazem do fogo uma técnica de gestão de combustível para dirigir essa gestão de forma adequada, para que quando se produzam situações meteorológicas adversas (a conhecida Regra do 30: mais de 30 ºC de temperatura, humidade relativa inferior a 30%, velocidade do vento superior a 30 km/h e mais de 30 dias sem chuva ou de seca acumulada) possa-se reduzir o risco de ocorrência de um grande incêndio florestal.

Incido nos grandes incêndios florestais. Escrevo sobre eles neste mês de julho, época estival, a de maior risco em quase toda a Espanha, mas devemos abrir o foco de visão: incêndios florestais há no nosso país durante todo o ano. A intervenção rápida dos meios de extinção existentes faz com que mais de 70% dos quase 15 000 incêndios que se contabilizam anualmente como valor médio na última década fiquem no que se considerou conveniente chamar de fogacho, isto é, incêndios menores de 1 ha. Cerca de 25 a 30 incêndios convertem-se anualmente em grandes incêndios. A problemática desta situação vê-se agravada quando estes grandes incêndios afectam zonas de interface urbano-florestal, isto é, zonas de vegetação misturadas com habitações ou aglomerados rurais, em íntimo contacto, situação cada vez mais habitual e de grande complexidade no seu tratamento.

Falar de incêndios florestais como um fenómeno isolado que precisa de tratamento em si mesmo, que o é, seria focar o tema de modo parcial. Na minha opinião, deve-se demarcar a defesa da floresta contra incêndios na planificação territorial e, mais concretamente, na gestão florestal. Um adequado conceito de gestão florestal integral seguindo os princípios de multifuncionalidade do monte, ligada estreitamente à conservação da biodiversidade permitirá planificar a gestão do combustível com uma ampla perspectiva: gestão da biomassa para a produção de energia renovável, prática de silvopastorícia, tratamento silvícolas, aproveitamento sustentável de madeira e outros produtos, todas estas actividades são geradoras de emprego e portanto, capazes de fixar a população no meio rural.

Consenso entre técnicos e investigadores

Particularmente penso que se está a avançar muito neste tema, que existe bastante consenso entre os técnicos e os investigadores inclusive a nível internacional, mas que falha. Em primeiro lugar, a conexão destes profissionais com a politica, caracterizada por uma visão geral de curto prazo que busca o imediato nas medidas para um retorno instantâneo. Ambos ritmos (o politico e o natural) não encaixam: a floresta necessita de tempo para instalar-se, desenvolver-se e garantir a sua persistência. A planificação da gestão (e com ela os respectivos orçamentos) deve consolidar as linhas iniciadas, mantendo-as junto com os recursos necessários, para além do símbolo politico governante ou do prazo de quatro anos que dura a legislatura.

O outro aspecto claramente melhorável é a comunicação dos profissionais implicados na defesa contra os incêndios florestais com o conjunto da sociedade. Transmitir adequadamente o que se está a fazer, tratando de informar com veracidade e rigor, aproximando esta realidade a todos que como disse, estamos implicados neste tema, é parte essencial da solução do problema.

A todos os níveis, entre os que entendo que a Universidade tem um importante papel, como responsável da formação dos futuros técnicos que serão os próximos gestores territoriais, investigadores, professores…que deverão continuar com o trabalho iniciado, incorporando os avanços que se vão produzindo num cenário geral de mudança climática que previsivelmente favorecerá a ocorrência de incêndios florestais no âmbito territorial mediterrânico. Neste sentido, eu com estas linhas apenas pretendi dar umas pinceladas sobre certos aspectos gerais deste complexo mundo ao redor dos incêndios florestais.


ARTIGO ORIGINAL


Traduzido por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

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