quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O efeito do fogo controlado nas populações de aves

 Fonte: NATURLINK

Artigo de: Ana Delgado, Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves-ISA

O fogo controlado é uma técnica de gestão florestal importante para a prevenção dos incêndios florestais.
Quais serão os impactos do fogo controlado nas aves? 
Que espécies serão mais susceptíveis ao fogo? E quais serão os seus efeitos a prazo? 

O fogo é um processo natural com o qual evoluíram muitos ecossistemas terrestres. Nalguns casos este constitui uma ocorrência rara, noutros um fenómeno comum. Na Bacia Mediterrânica, a coincidência da estação quente e seca cria condições climatéricas ideais para a eclosão e propagação dos incêndios de Verão, cujas proporções são inaceitáveis por causarem perdas de vidas humanas e prejuízos económicos e sociais muito graves (Rego, 1990).

Em Portugal, até algumas décadas atrás o ecossistema mantinha um certo equilíbrio, através da intervenção sistemática dos pastores e agricultores, nomeadamente pelo uso do fogo nas zonas de pastagem extensiva e pelo corte periódico dos matos (Silva, 1990). Nos anos sessenta, com o êxodo rural e desertificação humana, estas práticas foram abandonadas levando à rotura de um equilíbrio criado pelo homem, verificando-se a partir desta data um aumento do número de incêndios.
Actualmente o fogo controlado, técnica de gestão de combustíveis, pode ser uma importante ferramenta de prevenção dos incêndios florestais no nosso País (Rego, 1986). Este facto tem justificado a razoável quantidade de estudos já realizados sobre esta temática, em particular nos povoamentos de pinheiro-bravo Pinus pinaster. No entanto, no nosso País nunca foram analisados os impactos desta técnica sobre as comunidades de aves.

Este estudo teve como objectivo avaliar o efeito, a curto e médio prazo, do fogo controlado nas populações de aves. Este trabalho foi elaborado no âmbito do Projecto "Efeito do fogo controlado nas populações de vertebrados terrestres" e decorreu entre Maio de 1998 e Abril de 2000.

Metodologia

A área onde o estudo foi efectuado localiza-se no Alto Minho, no Perímetro Florestal de Entre Vez e Coura, ocupando uma área total de aproximadamente 1000 hectares. Nesta área, a técnica do fogo controlado foi introduzida como prática experimental na década de 80 (Silva, 1997).

O coberto arbóreo é dominado por povoamentos de pinheiro-bravo Pinus pinaster e pequenas manchas de folhosas e de matos. O sub-coberto é dominado por tojos Ulex europaeus e Ulex minor, urzes Eriça spp. e Calluna vulgaris, e carqueja Chamaespartium tridentatum. Nas áreas onde ocorrem fogos a espécie predominante é o feto Pteridium aquilinum.

Nesta região ocorrem algumas espécies de aves com um elevado valor conservacionista, tais como águia-real Aquila chrysaetus (Em Perigo) e o dom-fafe Pyrrhula pyrrhula (Raro), pouco abundantes no País e com uma distribuição muito localizada.

Neste estudo foram definidas duas abordagens distintas: os efeitos do fogo a curto prazo e, por outro lado, o estudo dos seus efeitos a médio prazo.

Para o estudo dos efeitos a curto prazo, caracterizaram-se parcelas que foram sujeitas ao fogo controlado na época de 1998/99. Paralelamente, foi utilizada a mesma metodologia em zonas-testemunha, com características de povoamento semelhantes mas não sujeitas ao fogo. Tanto as zonas sujeitas ao fogo controlado como as zonas testemunha foram caracterizadas antes e depois da realização do fogo. Os fogos controlados ocorreram entre Dezembro e Janeiro de 1998/99. A periodicidade na caracterização destas áreas foi realizada mensalmente.
Figura 1 - Localização das parcelas de fogo controlado amostradas no estudo do efeito a curto prazo, durante a época de 98/99.
 Para o estudo dos efeitos a médio prazo, foram consideradas parcelas onde o fogo controlado foi aplicado em anos anteriores. Foram consideradas quatro classes de idade desde o fogo correspondentes a parcelas queimadas nas épocas de 92/93, 94/95, 96/97 e 97/98. Foram igualmente consideradas parcelas testemunha (parcelas não queimadas).

A caracterização das comunidades de aves foi sazonal (Primavera de 1998 e Inverno de 1998/99).
Figura 2 - Localização das parcelas testemunha e de fogo controlado (queimadas nas épocas de 96/97; 97/98; 94/95 e 92/93), amostradas no estudo do efeito a médio prazo, na Primavera e Inverno de 1998.
Para a amostragem da comunidade de aves utilizou-se o método pontual, que consiste basicamente no registo das aves vistas e ouvidas, em determinados pontos, durante 20 minutos. Para cada espécie foi calculada a abundância relativa (nº de indivíduos/ponto). As diferentes espécies de aves foram agrupadas em três grupos que poderiam responder de forma diferencial às alterações na estrutura da vegetação provocados pelo fogo controlado. Esta classificação foi feita de acordo com o tipo de habitat de nidificação, baseado na informação do Cramp et al. (1977-1994). As espécies foram classificadas em três grupos: grupo arbustivo, grupo arbóreo e grupo misto (espécies associadas quer ao estrato arbóreo quer ao arbustivo). (Quadro)

Durante a época reprodutora, a realização dos pontos ocorreu nas três primeiras horas após o nascer do sol, período de maior actividade para a maioria das espécies de aves (Bibby et al., 1992). No Inverno, os pontos foram realizados de manhã e de tarde, devido a não se verificarem picos de actividade das aves ao longo do dia. Não foram incluídas espécies para as quais o método de censos não era o mais aconselhado, tais como as aves de rapina ou espécies de hábitos nocturnos.

Resultados

Efeito do fogo a curto prazo

As espécies mais abundantes foram o chapim-preto Parus ater, carriça Troglodytes troglodytes e o chapim-de-crista Parus cristatus. Nenhuma espécie se mostrou exclusiva das parcelas sujeitas ao fogo controlado ou das parcelas não queimadas.

Logo após o fogo, verificou-se uma diminuição de abundância de aves. As espécies associadas ao estrato arbustivo são as mais afectadas logo após o fogo, devido à diminuição da cobertura do tojo, pois dependem do estrato arbustivo desenvolvido para nidificar. Para a felosa-do-mato Sylvia undata, esta tendência continua a existir após um ano desde o fogo. Para as espécies pertencentes aos grupos arbóreo e misto estas diferenças não são significativas. Um ano após o fogo, as abundâncias são semelhantes entre as áreas queimadas e não queimadas. No entanto, uma das espécies representativas do grupo misto, a toutinegra-de-barrete-preto Sylvia atricapilla, associada a meios arbustivos mais desenvolvidos, foi mais abundante nas áreas não queimadas, apresentando diferenças significativas durante a época reprodutora (Maio de 1999).

Efeito do fogo a médio prazo
Para o estudo do efeito a médio prazo, os resultados mostram que a riqueza de espécies não é afectada pelo fogo mas por outras variáveis associadas com características da parcela (nomeadamente a idade do povoamento, presença de outras espécies de árvores para além do pinheiro-bravo) e características da paisagem (presença de matos e de eucaliptais à volta da parcela). A abundância de espécies é afectada pelo tempo desde o fogo, principalmente para as espécies associadas ao estrato arbustivo. As abundâncias totais mais baixas são atingidas nas áreas recentemente queimadas e nas áreas queimadas há um ano. A abundância mínima foi atingida nas áreas queimadas há um ano devido, provavelmente, a um aumento na disponibilidade alimentar nas áreas queimadas ou devido ao “site tenacity”, ou seja, a tendência das espécies de continuarem nas áreas apesar da ocorrência do fogo. Este comportamento, foi já observado em outros estudos de aves na primeira época reprodutora após fogo (Pons, 1998; Izhaki, 1993).
Figura 3 – Abundância média total (nº médio de indivíduos por ponto) nas áreas não queimadas e nas áreas queimadas nas épocas de 96/97 (1 ano), 97/98 (- 1 ano), 94/95 (3 anos) e 92/93(5 anos).
Conclusões


Os resultados mostram que o fogo afecta temporariamente a abundância de aves.
As espécies mais afectadas são as que dependem do estrato arbustivo para nidificarem. No entanto, a riqueza de espécies não é afectada pelo fogo. Este resultado deverá ser consequência da baixa intensidade dos fogos e pequena dimensão das queimas efectuadas na área de estudo.

Agradecimentos

Estiveram envolvidos no projecto "Efeito do fogo controlado nas populações de vertebrados terrestres" o Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” do Instituto Superior de Agronomia, ERENA Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais, Lda., e a Escola Superior Agrária de Coimbra.

Bibliografia

Bibby, C., Burgess, N.D. e Hill, D.A. (1992). Bird Census Techniques. Academic Press, London. Cramp, S. Simmons, K. E. L. e Perrins C. M., eds, (1977-1994). The Birds of Western Paleartic. Vol. 1-9. Oxford University Press, Oxford. Izhaki, I. (1993). The resilience to fire of passerine birds in an East Mediterranean Pine Forest on Mount Carmel, Israel: the effects of post-fire management. In: Trabaud, L. e Prodon, R. (eds.). Fire in Mediterranean ecosystems. Ecosystems Research Report nº 5, CEE, pp. 303-314. Pons, P. (1998). Bird site tenacity after prescribed burning in a Mediterranean shrubland. In: Louis Trabaud (ed.). Fire management and Landscape ecology. Centre dÉcologie Fonctionnelle et evolutive, CNRS. Montpellier, France, pp. 261-270. Rego, F. (1986). Effects of prescribed fire on vegetation and soil properties in Pinus pinaster forests of Northern Portugal. Tese de Doutoramento, Universidade de Idaho. Rego, (1990). In: F. Castro Rego e Hermínio S. Botelho. O fogo controlado na prevenção dos fogos florestais. A técnica do fogo controlado. Universidade Trás os Montes.19-26. Silva, (1997). Historique des feux contrôlés au Portugal. Forêt Méditerranéennet. t. XVIII, nº 4.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Chave de Nuvens - Previsão do Comportamento do Fogo

O presente documento disponível para descarga resulta de uma adaptação do trabalho desenvolvido pelo Eng.º Florestal Raul Quilez, do Consorcio de Bomberos de Valencia, onde exerce funções de Técnico de Coordenação Florestal.
Este trabalho visa ajudar o combatente ou o técnico analista a classificar as nuvens e como elas nos podem auxiliar na previsão do comportamento do fogo esperado, quer num incêndio florestal quer numa acção de fogo controlado. As fontes/bases deste trabalho partiram dos seguintes organismos estatais dos Estados Unidos da América: National Oceanic and Atmospheric Administration, Central Alabama Fire Weather Support  e National Predictive Services Subcommittee (NPSS) - National Interagency Fire Center.
Face à sua importância, fica aqui disponível para descarga a versão em português, elaborada pelo SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Miguel Macedo promete mais meios aéreos



O governante garante que o dispositivo de combate a incêndios para este ano deverá ser apresentado "dentro de poucas semanas" e não terá cortes, antes pelo contrário.

O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, anunciou, em Favaios, distrito de Vila Real, um reforço de "mais cinco ou seis meios" aéreos para o dispositivo de combate a incêndios de 2013.
Miguel Macedo inaugurou o quartel dos bombeiros de Favaios, concelho de Alijó, uma obra que representa um investimento de 900 mil euros.

Foto: E.Oliveira - SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira
No decorrer da visita, o ministro anunciou que o dispositivo de combate a incêndios para este ano deverá ser apresentado "dentro de poucas semanas".
"Verificarão na altura, tal como eu tenho prometido, que não haverá nenhum corte, pelo contrário, vai haver um crescimento de apoio às estruturas da protecção civil", salientou.

Miguel Macedo prevê que Portugal possa ter em 2013 "cinco ou seis meios aéreos a mais" em relação àqueles que estiveram disponíveis no ano passado.
O governante referiu ainda que, até ao final do mês, o Governo possui um calendário "muito exigente" na área da protecção civil.
"Temos prontos cinco diplomas que constituem uma alteração importante no domínio da protecção civil", salientou.

O ministro adiantou que, até ao final do mês, serão introduzidas "alterações importantes" na estrutura de formação dos bombeiros, com a reconfiguração daquilo que é a escola nacional de bombeiros, a plena utilização das unidades locais de formação, a possibilidade de um sistema de formação que seja mais adequado em relação às exigências de hoje.

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Video do Curso de Análise de Incêndios Florestais

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

MAI não recorre para tribunal e contrata meios aéreos para fogos florestais

Por Rosa Ramos, publicado em 7 Fev 2013


www.ionline.pt
O Ministério da Administração Interna (MAI) desmentiu ontem, num comunicado enviado aos jornais, que haja atrasos na locação de aviões de combate a incêndios, acrescentando que “não há nenhum gasto adicional” relativamente ao concurso público que a Empresa de Meios Aéreos (EMA) abriu em 2012 para a contratação de helicópteros.

O MAI revelou ainda que não vai recorrer da decisão do Tribunal de Braga sobre o concurso para não correr o risco de atrasar a preparação da época de fogos. “O MAI deu indicações para não se apresentarem recursos. Isto significaria que teríamos que esperar por uma nova decisão relativamente a um recurso do ministério, o que demoraria quatro a cinco meses. Não queremos protelar essa discussão para altura dos incêndios florestais”, afirmou aos jornalistas o secretário de Estado Filipe Lobo D'Ávila.

Uma resolução fundamentada redigida pela EMA – tutelada pelo ministério – em Setembro do ano passado, e a que o i teve acesso, refere que “no cronograma actual do concurso público prevê-se a outorga do contrato no final do mês de Dezembro de 2012, com o consequente início de execução em Janeiro de 2013”. Mas, mais de um mês depois desse prazo, o júri ainda não se pronunciou sobre a empresa vencedora do concurso. Um eventual atraso, como o i adiantou anteontem, poderá culminar com uma adjudicação directa – o que agravará os custos com a locação de meios em cerca de 20% daquilo que o Estado prevê.
Na prática, em 2013 o MAI teria de gastar 26,2 milhões de euros, sendo que o valor estimado, sem ajuste directo, é de apenas 21,8 milhões. O júri do concurso decidiu-se, em Novembro, pela adjudicação à Everjets, a empresa que apresentou a proposta mais baixa a concurso. O tribunal de Braga declarou ilegais as normas do concurso que exigiam a apresentação de manuais de voo, considerando a Everjets que esta decisão, apesar de não transitar em julgado, deveria ser considerada pelo júri do concurso.



Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

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